Adolescência e uso de maconha: Fatores de risco, consequências e tratamento

Como vimos anteriormente, diante de tantas mudanças não é raro que, nesta fase, os jovens busquem uma “válvula de escape” para lidar com a ansiedade e insegurança diante das incertezas originadas pelas mais variadas fontes de conflitos.


Podemos observar um distanciamento natural da família, e uma maior aproximação de sua turma onde, em grupo, vão buscar por novas experiências, bem como a exploração de novos ambientes, situações e companhias. Esses comportamentos podem ser importantes para o desenvolvimento da autonomia e da capacidade de fazer escolhas, mas também podem acarretar consequências negativas a curto, médio ou longo prazo.


O distanciamento dos pais e uma aproximação de seus pares, tornam o jovem mais vulnerável e suscetível a comportamentos de uso de álcool, tabaco e outras drogas, conduta antissocial, comportamento sexual de risco, comportamento suicida, comportamento alimentar de risco, prática inadequada de atividades físicas, dificuldades escolares, entre outros (Guedes & Lopes, 2010; Huang, Lanza, Murphy, & Hser, 2012 apud Alves et. al. 2015).


Segundo a Organização Mundial de Saúde a cannabis é a droga psicoativa ilícita mais usada no mundo. Com base em uma pesquisa realizada em 130 países, sugere que, em 2016, jovens (principalmente estudantes) com idades entre 15 e 16 anos, equivalente a 5,6% da população nessa faixa etária, usou cannabis pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. (UNODC, 2018).


ADOLESCENCIA – FATORES DE RISCO X CANABIS


Canavez et al. (2010) em seu estudo sobre Fatores de Risco para o uso precoce de drogas por adolescentes, concluiu que alguns fatores tais como: distorções no afeto, vitimização pela violência doméstica, baixa resiliência, personalidade depressiva, hipótese genética, baixa autoestima são importantes preditores para que os adolescentes corram maior risco de se tornarem usuários de drogas.


O cérebro Adolescente X Canabis


De acordo com Zanelatto e Laranjeira (2018) o uso de maconha causa alterações no humor, podendo variar de eufórico (marcado por risos imotivados, fala solta e sensação de bem estar) a sintomas de mal-estar psíquico, como tristeza, ataques de pânico e perda de controle (medo de enlouquecer). O pensamento fica letificado e não há coerência nas associações de ideias, sendo incapaz de articular o pensamento com a facilidade habitual. Há também um prejuízo na capacidade em realizar trabalhos e tarefas que exigem atenção, como a condução de veículo, e diminuição drástica na capacidade de concentração e de realizar atividades elaboradas ou cálculos.


Estudos apontam que há relação entre o uso prolongado da maconha com psicoses, esquizofrenia, distúrbios de humor e disfunções cognitivas, pois os efeitos do THC no sistema nervoso central (SNC) incluem ações depressoras e psicotomiméticas, comprometendo desta forma a memória de curto prazo e aprendizagem (CAVALCANTI, 2018; PRETY, 2015; RANG, 2011; GONÇALVES; SCHLICHTING, 2014 apud VANJURA et al. 2014).


ADOLESCENTES – EFEITO QUÍMICO SNC (Sistema Nervoso Central)


Essa substância psicoativa afeta o sistema de recompensa do cérebro, superativando-o. Isso leva a uma inundação de dopamina, uma molécula que gera prazer.


Com o uso regular esse sistema de recompensa passa a ficar preguiçoso e deixa de ser ativado por situações normais da vida, como tirar uma nota alta, conseguir uma promoção no trabalho, desenvolver uma relação afetiva, etc. Ou seja: os prazeres do cotidiano perdem espaço para o que é proporcionado pela cannabis. Aos poucos, poucas atividades gerariam contentamento e o indivíduo buscaria apenas o prazer imediato proporcionado por essa droga. No fim das contas, o isolamento, a falta de fontes de alegria e atividades prazerosas desencadearia a depressão e as tentativas de suicídio.


Nos adolescentes isso seria potencializado pelo fato de que, o cérebro está em plena evolução. Resultado: fica mais vulnerável a eventuais alterações provocadas pelo THC, como: o déficit cognitivo que está relacionado a dificuldades na aprendizagem e repetência escolar.

Fergusson, Horwood e Swain-Campbell (2002) encontraram em seu estudo uma associação entre o uso da maconha e maiores taxas de evasão escolar, referindo-se a uma chance 3 vezes maior de abandono da escola aos 16 anos em adolescentes que iniciaram o uso desta substância antes dos 15 anos.


Os tratamentos mais indicados são: Acompanhamento Psiquiátrico, Terapia Cognitiva Comportamental e orientação familiar. Sugere-se ainda, a prática de atividades físicas (sob orientação de profissional especializado) ou caminhadas, além de manter uma rotina com atividades de lazer.



ALINE THAYS GROU – SINAPSE SAÚDE MENTAL

PSICÓLOGA ESPECIALISTA EM DEP. QUÍMICA – C.R.P. 140.864/SP

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